Os bancos na Grécia reabriram as portas nesta segunda-feira (20) pela primeira vez em três semanas depois de fechamento, para permitir operações nos caixas, apesar de controles de capital ainda serem mantidas.
A chefe da associação de bancos da Grécia Louka Katseli pediu aos gregos - que poderão sacar 420 euros por semana de uma vez, ao invés de 60 euros por dia - que coloquem seu dinheiro de volta.
A reabertura cautelosa dos bancos, e um aumento no valor das taxas em alimentos de restaurantes e transporte público a partir de segunda-feira (20), visa restaurar a confiança dentro e fora da Grécia, após um acordo de ajuda para reformas na semana passada ter evitado a falência do país.
Os cidadãos podem comparecer às agências e realizar as operações que até agora só podiam ser feitas por caixa eletrônico. Estão permitidas transações como pagamento de contas e desconto de cheques.
Os pais que tenham filhos estudando no exterior poderão enviar até 5.000 euros por trimestre e aqueles que precisam pagar custos de hospitalização em outro país também dispõem de até 2.000 euros.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras está tentando "virar a esquina" após os termos de resgate que ele aceitou com relutância terem gerarem uma rebelião em seu partido Syriza, de esquerda.
Ele demitiu rebeldes do partido em uma remodelação do governo na sexta-feira e está buscando um rápido início das negociações sobre um acordo de resgate com parceiros europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI) antes das eleições, que devem ocorrer em setembro ou outubro segundo o ministro do Interior Nikos Voutsis.
No sábado, o governo divulgou um decreto ordenando que os bancos abrissem suas portas na segunda-feira, após terem fechado no dia 29 de junho para evitar o colapso do sistema, com um aumento dos saques pelas preocupações com a crise da dívida grega.
Custo alto para os gregos
O premiê Tsipras se comprometeu a reformar o sistema de aposentadorias, de impostos e do mercado de trabalho. São reformas muito mais duras do que as que os gregos rejeitaram, por ampla maioria, no referendo de 5 de julho.
Essa nova dose de austeridade, que se soma às medidas adotadas nos últimos cinco anos, voltou a levar os gregos às ruas e suscita rumores de eleições antecipadas.
Já sem maioria no Congresso, Tsipras reconheceu que não concorda com vários aspectos do programa, mas afirmou que assinou o acordo para "evitar um desastre". O ministro grego da Economia, Euclides Tsakalotos, garantiu que ter aceitado as condições dos credores "lhe pesará por toda a vida".
Em paralelo à nova ajuda, os ministros da Eurozona aprovaram um financiamento ponte de € 7 bilhões para que a Grécia possa enfrentar seus compromissos mais urgentes. Entre eles, está o pagamento, na próxima segunda-feira, de aproximadamente € 4,2 bilhões ao Banco Central Europeu (BCE). No total, até meados de agosto, o país precisará de cerca de € 12 bilhões.
Na quinta-feira, o presidente do BCE, Mario Draghi, também decidiu aumentar em € 900 milhões os empréstimos de emergência aos bancos gregos.
RESUMO DO CASO
- A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.
- Essa dívida foi financiada por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do resto da Europa.
- Em 30 de junho, venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. Então, o país entrou em "default" (situação de calote), o que pode resultar na sua saída da zona do euro. Essa saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de "expulsão" de um país da zona do euro. No dia 13 de julho, outra dívida com o FMI deixou de ser paga, de € 450 milhões.
- Como a crise ficou mais grave, os bancos estão fechados para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
- A Grécia depende de recursos da Europa para manter sua economia funcionando. Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e aumente impostos para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu em 30 de junho.
- Em 5 de julho, os gregos foram às urnas para decidir se concordam com as condições europeias para o empréstimo, e decidiram pelo "não".
- Nesta semana, os líderes europeus concordaram em fazer um terceiro programa de resgate para a Grécia, de até € 85 bilhões, mas ainda exigem medidas duras, como aumento de impostos, reformas no sistema previdenciário e mais privatizações.
- O parlamento grego aprovou na quarta-feira (15) o primeiro pacote de reformas para conseguir dinheiro para saldar parte do que deve aos credores. Com isso, o Eurogrupo deu aval prévio ao empréstimo.
- Na sexta-feira, a União Europeia aprovou uma antecipação de € 7,16 bilhões do pacote de ajuda que vem sendo negociado, para que o país não dê "calote" no pagamento de € 3,5 bilhões que tem que fazer na segunda-feira ao Banco Central Europeu (BCE).
- A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na zona do euro. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.
- Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.
Do G1