A temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos aumentou
0,85ºC entre 1880 e 2012, um aquecimento de velocidade inédita, destacou
o Painel Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na
sigla em inglês).
Segundo os cientistas, o mundo tem pouco tempo para conseguir manter o
aumento global da temperatura abaixo do limite de 2ºC, a meta da
comunidade internacional.
As emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa devem ser
reduzidas de 40 a 70% entre 2010 e 2050 e desaparecer até 2100, anunciou
o IPCC, no relatório mais completo sobre as mudanças climáticas desde
2007.
De acordo com o relatório, a Terra caminha atualmente para um aumento
de pelo menos 4ºC até 2100 na comparação com nível da era
pré-industrial, o que provocará grandes secas, inundações, aumento do
nível do mar e extinção de muitas espécies, além de fome, populações
deslocadas e conflitos potenciais.
"A justificativa científica para dar prioridade a uma ação contra a
mudança climática é mais clara que nunca", disse o diretor do IPCC,
Rajendra Pachauri.
"Temos pouco tempo pela frente antes que passe a janela de oportunidade para permanecer abaixo dos 2ºC".
O relatório - a primeira revisão global do IPCC desde 2007 - foi
divulgado antes das negociações de dezembro em Lima, que pretendem
traçar o caminho para a grande reunião de dezembro de 2015 em Paris, que
tem como meta a assinatura de um compromisso para alcançar a meta dos
2ºC.
As negociações esbarram há vários anos no debate sobre quais países
deveriam assumir o custo da redução das emissões de gases do efeito
estufa, que procedem principalmente do petróleo, gás e carvão, que
atualmente constituem grande parte da energia consumida.
O documento afirma que o uso de energias renováveis, o aumento da
eficiência energética e o desenvolvimento de outras medidas destinadas a
limitar as emissões custaria muito menos que enfrentar as consequências
do aquecimento global.
A conta a pagar atualmente para atingir a meta ainda é possível, mas
adiar a resposta aumentaria consideravelmente a fatura para as gerações
futuras.
"Os custos das políticas de limitação variam, mas o crescimento mundial
não seria gravemente afetado", afirma o IPCC, que calcula que curvas
"ambiciosas" de redução de carbono provocarão uma queda de apenas 0,06%
no crescimento mundial neste século, que deve ser em média anual de
entre 1,6 e 3%.
"Comparado ao risco iminente dos efeitos irreversíveis da mudança
climática, os riscos a assumir para alcançar uma redução são
administráveis", destaca Youba Sokona, um dos cientistas responsáveis
pelo relatório.
De acordo com o cenário de emissões mais otimista dos quatro citados no
documento, a temperatura média do planeta aumentará este ano entre 0,3 e
1,7 ºC, o que levará a uma alta de 26 a 55 cm do nível do mar.
Segundo a hipótese mais alarmista, o planeta terá um aquecimento de
entre 2,6 e 4,8ºC, o que provocará um aumento de entre 45 e 82 cm do
nível do mar.
O relatório adverte, sem rodeios, que caso as tendências atuais sejam
mantidas, "a mudança climática tem mais probabilidades de exceder 4ºC
que de não fazê-lo até 2100", na comparação com os níveis da era
pré-industrial.
Risco de dano irreversível
Sem ações adicionais para limitar as emissões, "o aquecimento até o fim do século XXI conduzirá a um risco de impacto irreversível generalizado a nível global", destaca o IPCC.
Sem ações adicionais para limitar as emissões, "o aquecimento até o fim do século XXI conduzirá a um risco de impacto irreversível generalizado a nível global", destaca o IPCC.
O relatório adverte para os riscos como consequência de um sistema climático alterado:
- agravamento da segurança alimentar, com impacto nas colheitas de grãos e na pesca;
- aceleração da extinção das espécies e dano ao ecossistemas dos quais o ser humano depende;
- correntes migratórias provocadas pelo impacto econômico dos danos da
mudança climática e a perda de terras em consequência do aumento do
nível do mar;
- maior escassez de água, especialmente nas regiões subtropicais, mas
também um risco de maiores inundações nas latitudes do norte e do
Pacífico equatorial;
- riscos de conflitos por causa da escassez de recursos e impacto sobre
a saúde provocado pelas ondas de calor e a proliferação de doenças
transmitidas por mosquitos.
Se as emissões de CO2 prosseguirem a longo prazo, a acidificação dos
oceanos e o aumento do nível dos mares continuará nos próximos séculos. O
risco a longo prazo permanece desconhecido sobre uma perda 'abrupta e
irreversível' dos gelos antárticos, que provocaria um grande aumento do
nível das águas.
O IPCC foi criado em 1988 para fornecer aos governos informações
neutras e objetiva sobre as mudanças climáticas, seus impactos e as
medidas para reverter o problema.
O relatório elaborado por mais de 800 especialistas é o quinto resumo
geral da situação publicado nos 26 anos de história do painel.
O documento anterior da mesma importância foi publicado em 2007 e
ajudou a preparar a reunião de cúpula de Copenhague de 2009, que
fracassou na tentativa de obter a assinatura de um acordo global.
Consequências drásticas
O primeiro capítulo afirmava que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau.
O primeiro capítulo afirmava que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau.
Sobre as previsões, a primeira parte trouxe também a informação de que
há ao menos 66% de chance de a temperatura global aumentar pelo menos
2ºC até 2100 em comparação aos níveis pré-industriais (1850 a 1900).
Isso se a queima de combustíveis fósseis continuar no ritmo atual e sem o
cumprimento de políticas climáticas já existentes.
Os 259 pesquisadores-autores de várias partes do mundo, incluindo o
Brasil, estimaram ainda que, no pior cenário possível de emissões, o
nível do mar pode aumentar 82 centímetros, prejudicando regiões
costeiras do planeta, e que o gelo do Ártico pode retroceder até 94%
durante o verão no Hemisfério Norte (leia mais aqui).
Impactos e adaptação
Já o segundo capítulo, lançado no fim de março, concluiu que são "altamente confiáveis" as previsões de que danos residuais ligados a eventos naturais extremos ocorram em diferentes partes do planeta na segunda metade deste século. E isso deve acontecer mesmo se houver corte substancial de emissões nos próximos anos.
Já o segundo capítulo, lançado no fim de março, concluiu que são "altamente confiáveis" as previsões de que danos residuais ligados a eventos naturais extremos ocorram em diferentes partes do planeta na segunda metade deste século. E isso deve acontecer mesmo se houver corte substancial de emissões nos próximos anos.
O texto aponta que populações pobres de regiões costeiras podem sofrer
com o aumento do nível do mar, altas temperaturas acentuariam o risco de
insegurança alimentar e que áreas tropicais da África, América do Sul e
da Ásia devem sofrer com inundações causadas pelo excesso de
tempestades.
O documento afirma também que há fortes evidências de uma redução da
oferta de água potável em territórios subtropicais secos, o que
aumentaria disputas pelo uso de bacias hidrográficas, além de uma
possível perda de espécies de plantas e animais pela pressão humana,
como a poluição e o desmatamento de florestas (leia mais aqui).
A terceira e última parte afirma que são necessárias mais ações para
cortar as emissões de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento
do planeta a 2ºC até 2100. Segundo os cientistas, é preciso abandonar os
combustíveis fósseis poluentes e utilizar fontes mais limpas para
evitar o efeito estufa, que poderá provocar um aumento da temperatura do
planeta entre 3,7ºC e 4,8ºC antes de 2100, o que seria um nível
catastrófico.
G1
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