Todos os dias, notícias de violência contra a mulher são divulgadas
na mídia em todo o Brasil. Na Paraíba, 176 mulheres deram entrada em
alguma unidade de saúde do SUS vítimas de violência sexual e física e 23
foram estupradas neste ano, segundo o Sistema de Informação de Agravos
de Notificação (Sinan).
No ano passado, 1.254 sofreram violência
sexual e física e 223 mulheres foram estupradas, uma média de 18
estupros por mês. Algumas mulheres, para evitar tornarem-se mais uma nas
estatísticas, estão recorrendo a treinos de artes marciais e de defesa
pessoal. Este é o caso da pedagoga Lydiene Moreira Fonseca que já ficou
sob a ameaça de uma faca durante um assalto e buscou no krav magá a
segurança da autodefesa.
O professor de krav magá, Edgar Torres,
apontou que, além de aprender a se defender, a aluna queima até 700
calorias por aula, ajudando a perder peso e manter o físico. Porém,
muitas mulheres ainda acreditam que lutar é esporte para homem e que
requer muita força física, o que não é verdade. Segundo Edgar, as
mulheres representam menos da metade – não chega a 40% – dos praticantes
de artes marciais no Brasil, mas que esse número está crescendo. Ele
ressaltou que qualquer pessoa, não importa a idade, sexo ou tipo físico,
pode praticar o krav magá.
Assim como no krav magá, o
jiu-jitsu não tem limite de idade ou sexo. Na academia do professor de
jiu-jitsu Vagner Guimarães, da equipe Boca Team, a faixa etária dos
alunos vai de 4 anos até mais de 50 anos, de ambos os sexos. Inclusive, a
filosofia de Hélio Gracie, o criador do jiu-jitsu brasileiro, é de que o
menor e mais fraco pode vencer um adversário mais forte por meio da
técnica. Para Vagner, qualquer arte marcial oferece a segurança de poder
se defender em situações de agressão, mas ele destaca que é preciso
dedicação e gostar do que está fazendo, pois requer muito treino para
aprender aplicar os golpes adequadamente.
“Transmite segurança”
Para
a promotora de Justiça, Ana Maria França, saber técnicas de defesa
pessoal transmite segurança para o cotidiano das mulheres. Ela pratica
krav magá há seis meses e notou a necessidade de toda mulher saber se
defender. Por causa da sua profissão, Ana Maria viu a importância de
aprender técnicas que permitam sair de situações de agressão e chegar
ilesa em casa, principal objetivo do krav magá. Ela lembrou que já
sofreu uma tentativa de agressão dentro do gabinete e que, por sorte,
outras pessoas a socorreram.
Eu estava atrás do gabinete e
consegui continuar conversando com a pessoa até alguém vir me socorrer.
Depois desse caso, mais que nunca, percebi a importância de aprender a
me defender. Se tivesse acontecido hoje, eu teria mobilizado, evitando
que ele usasse algum objeto para me machucar”, relatou.
Ana
Maria disse que hoje se sente mais segura e que as aulas ensinaram-na a
ter concentração e equilíbrio. “Por meio dos movimentos, criamos uma
memória muscular, assim temos uma reação natural para as situações de
agressão. No momento de tensão, a pessoa vai saber como fazer. Eu super
indico para todas as mulheres”, afirmou.
“Uso a paciência que a arte ensina”
Uma
experiência dramática levou a pedagoga Lydiene Moreira Fonseca, de 29
anos, a procurar um treino de autodefesa. Há quase três anos, Lydiane,
que na época trabalhava como recepcionista num estabelecimento, foi
rendida e ficou refém de um assaltante, que roubou todos os clientes e
proprietários. Sob a pressão de uma faca, que deixou várias marcas em
seu corpo, o assaltante ainda insinuou que queria “algo mais”, abrindo a
braguilha da calça de Lydiene. Um mês depois ela procurou o krav magá,
técnica de autodefesa usada pelo exército de Israel, arte que ela treina
até hoje.
Lydiene acredita que hoje numa situação similar a que passou o
cenário poderia ser diferente, pois ela está mais segura e calma para
enfrentar uma violência. “Eu sempre gostei de luta, mas nunca procurei
treinar, eu dava a desculpa que não tinha tempo. Depois da minha
experiência, parti para buscar aulas de defesa pessoal e aprender a
lutar por minha vida. Graças a Deus nunca precisei usar numa situação de
violência, mas já usei em shows para me desvencilhar de caras que
pegaram na minha mão. Com a técnica, eles nem notam que me soltei, acham
que foi sorte”, relatou.
A pedagoga nunca usou a técnica do krav
magá para escapar de uma agressão, mas já usou a paciência e controle
que a arte ensina. Lydiene relatou que, numa madrugada, um ladrão entrou
na sua casa depois de escapar da casa da vizinha. A vizinha ligou
avisando. Mantendo a calma, Lydiene trocou de roupa, acordou os pais e
ligou para a polícia e um amigo vigilante. “Eu me sentei, respirei fundo
e contei até 10, como aprendi nas aulas. Acalmei meus pais e esperamos a
polícia chegar. Se fosse antigamente, eu teria entrado em pânico”,
contou.
Porém, Lydiene lembra que é preciso dedicação e muito
treino para ter a segurança de se defender. “A gente aprende com o tempo
e treinamos muito para chegar à perfeição. No começo é difícil, mas com
o treino consegue fazer os golpes”, destacou.
Do Portal Correio

